O meu sogrão, que eu fico muito honrada de saber que sempre passa por aqui pra ver as nossas notícias, me mandou um texto bacanézimo do Leonardo Boff criticando as medidas contra os imigrantes ilegais aqui na Europa. O texto tem a ver com tudo o que estamos dizendo, acho que vale a pena ler na íntegra (foi publicado no JB):
PS: eu só queria fazer mais um comentário. O que eu não suporto é quando europeu vem falar dos Estados Unidos com aquele ar de superioridade, como se aqui fosse o continente desenvolvido, humano, os americanos são loucos, não têm consciência... (Ao meu querido Benoit, francês mais politicamente correto que já vi na vida, você e tantos outros europeus são diferentes, claro, assim como muitos americanos, isso não é nada pessoal. Eu só estou dizendo, aqui não se faz tão diferente, a Europa é má demais e sempre foi! Na verdade, eu acho que o problema é o humano e o poder, não tem nada a ver com cultura ou raça, todo mundo quer dominar...)
Opinião - Estados europeus desalmados
Leonardo Boff
A "Diretiva do Retorno", também chamada de "Diretiva da Deportação ou da Vergonha" da Comunidade Européia acerca dos extracomunitários ilegais desmascara uma faceta desumana que a cultura européia sempre teve e que dificilmente consegue disfarçar. É uma cultura identitária. Possui dificuldade imensa de conviver com o diferente. Ou o agregou, ou o submeteu ou o destruiu. Invadiu praticamente todo o mundo conhecido, subjugando e matando com a cruz e a espada. Foi ela que, nos primórdios da modernidade, provocou o maior genocídio da história humana, segundo o historiador Oswald Splengler em seu O declínio do Ocidente. Onde na América Latina havia 23 indígenas, diz-nos o antropólogo Darcy Ribeiro, após um século, restou apenas um. Depois dominou as populações restantes, explorou todos os recursos naturais possíveis que serviram de base para a industrialização e seu enriquecimento, que são suas injustas vantagens até os dias de hoje. Atrás de seus feitos comerciais e técnicos, há rios de sangue, de suor e de lágrimas. É uma cultura montada sobre o poder-dominação.
Agora, passando por cima de vários artigos da Declaração dos Direitos Humanos de 1948 (quando foi que a respeitaram?) maltratam imigrantes, consideram-nos criminosos a serem encarcerados, mesmo menores, sem precisar de mandado judicial, apenas mediante um procedimento administrativo. Prevêem-se campos de concentração para eles. Esses imigrantes escondem tragédias em suas vidas. Estão lá porque querem sobreviver e ajudar a suas famílias que deixaram em seus países.
Vejam a contradição: no século 19 os sobrantes do processo de industrialização europeu, aqueles que poderiam desestabilizar o capitalismo selvagem nascente, previsto por Marx, foram destinados à exportação. Não veio qualquer tipo de gente. Tinham primazia os empobrecidos e os doentes, como meus avós italianos. Todos de sua leva eram acometidos de tracoma, na época de difícil cura. Eu mesmo quando criança passei por esta doença bem como todos de nossa região no interior de Santa Catarina, onde se situa hoje a Sadia e a Perdigão, conhecidas por seus bons produtos.
No Brasil foram acolhidos com generosidade. Ganharam terras, ajudaram a construir esta nação e agora, com a riqueza natural com que Deus nos galardou, podemos ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro. As políticas da Comunidade Européia de hoje não mostram nenhuma reciprocidade. Com ações articuladas, se revelam cruéis e sem piedade. Relata-nos o príncipe de nossos jornalistas, Mauro Santayana, no JB de 22/06, que nos anos 80 economistas e sociólogos norte-americanos e europeus, sob o patrocínio de banqueiros, concluíram que era necessário afastar do consumo 4/5 da humanidade, a fim de garantir a gestão do planeta e manter os privilégios dos 20% de ricos. Os demais deveriam ser marginalizados até a sua extinção.
Parece que o genocídio está inscrito no código genético deste tipo de gente que está por detrás de quase todas as guerras dos últimos séculos. A eles que gostam de cultura como pura ilustração lhes recordo o que Immanuel Kant diz em sua A paz perpétua (1795). A primeira virtude de uma república mundial é a "hospitalidade geral", como direito e dever de todos. Todos estão sobre o planeta Terra, diz ele, e têm o direito de visitar suas regiões e seus povos, pois a Terra pertence comunitariamente a todos.
Só espíritos anticultura ocidental, como Francisco de Assis, João XXIII, Luther King e Madre Teresa podem oferecer um paradigma que resgate e salve estes governos da maldição da vida e da ira divina que pairam sobre ele.
martedì 15 luglio 2008
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5 commenti:
Eu ainda acho que é preciso analisar essa questão com mais profundidade:
-- A distorção maior é mundial e estrutural: a livre circulação de capitais e mercadorias implica a necessidade de livre circulação de pessoas. Só isso é garantia de evitar o neocolonialismo, pois os próprios Estados enriquecidos terão interesse em reinvestir nos empobrecidos para fixar sua poulação e evitar o afluxo excessivo de imigrantes;
-- Existe um critério moral de justiça, mas existe um critério pragmático de sobrevivência. Não dá para abrir as pernas unilateralmente, sorry, periferia. Um afluxo indiscriminado de imigrantes é um problemaço, em diversos sentidos.
-- A história é um fluxo ininterrupto, verdade, mas as coisas prescrevem --- até na justiça indivitual é assim, quanto mais na coletiva. Não dá para ir somando as penas de cada atrocidade cometida desde o tempo dos fenícios para saber quem tem direito a que: fica inviável.
-- Novamente essa história de "acolhidos generosamente" me soa suspeitíssima. A história da imigração no Brasil é negra como qualquer outra...
Podemos discutir todos esses pontos, mas vale lembrar: não estamos condenando exatamente o controle de imigração em si, que eu entendo que é necessário, mas o modo desumano como os imigrantes estão sendo tratados. Especificamente, essa nova lei que permite que eles sejam presos por até 18 meses é realmente o que não dá pra engolir...
Fato... essa história dos 18 meses não atende a nenhuma das necessidades pragmáticas supra citadas. É puro revanchismo.
O Brasil é mesmo um país singular. é Compreensível que muitos não acreditem que simplesmente nunca houve qualquer discriminação a emigrantes no nosso país.
Ari.
O texto do Boff é muito interessante mesmo. Talvez explique a reação super comum dos brasileiros ao problema da superpopulação. Afinal somos descendentes europeus.
Com muitos tenho discutido e demonstrado que a superpopulação da raça humana é o maior problema ecológico do planetinha. Qdo não há mais opção de resistência o mais comum é concluir que, o melhor então, é passarmos por algum tipo de genocídio, guerra ou eliminação em massa.
E é claro, todo mundo se considera parte do "grupo" preservado.
Ari.
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